Essa semana recebi uma paciente vinda de longe, e ela também tinha uma história de longa data. Passavam-se 8 anos que sofria com um quadro recorrente, esse quadro transformava sua vida de uma forma limitante.
Eram dores que a acompanhavam, dores que apareciam e sumiam como uma entidade com a única função de causar sofrimento. Essas dores podiam aparecer no tórax ou nas costas, nos braços ou nas pernas, era um fenômeno migratório sem como nem porquê.
E ela já havia procurado por vários profissionais de saúde, e de todos ouvia a temida frase que deveria ter que conviver com aquilo, pois era fibromialgia o nome da entidade que vivia pairando sobre seu corpo.
Mas quando ela me procurou duas coisas me chamaram a atenção, isso não faz de mim um profissional melhor que tantos outros que ela havia visto antes, mas olhar com outros olhos e ter percebido esses dois detalhes fez toda a diferença.
A primeira coisa que me chamou atenção foi a presença de frequentes sintomas cognitivos. Problemas cognitivos são aqueles que ocorrem quando uma pessoa tem dificuldades no processamento de informações, incluindo tarefas mentais como atenção, raciocínio e memória. Isso era algo que a seguia desde o início dos sintomas, tinha períodos de melhora ou piora, mas sempre estava lá. Esses sinais também aparecem nos pacientes mais mergulhados nos sintomas da fibromialgia, mas no caso dela isso aparecia independente dos episódios de dor que ocupam o cérebro de tal forma que ele deixa de fazer suas funções adequadamente.
A segunda coisa que percebi foi decisiva para o diagnóstico. A paciente sabia dizer exatamente o momento que a vida dela mudara. Não foi algo insidioso, que veio tomando usa vida aos poucos, foi algo que apareceu em uma época e de lá para cá os sintomas sempre passaram a persegui-la. Estava o tempo todo ali na história o nexo causal, agora só faltava descobrir o culpado.
O vilão da história veio escancarado em um exame de sangue, e tinha nome e sobrenome, Borrelia burgdorferi. A bactéria, prima distante da causadora da sífilis, é a responsável pela doença de Lyme – doença que provoca 300.000 novos casos por ano nos Estados Unidos e 65.000 novos casos por ano na Europa.
Conhecida por ser uma doença furtiva, já apresenta casos nas cinco regiões do país. Ela se esconde do nosso sistema imunológico de forma a apresentar sintomas que simulam uma doença autoimune. Isso faz com que exista uma enorme confusão e dificuldade no diagnóstico da doença no Brasil. E fibromialgia é uma das doenças que mais pode ser confundida com doença de Lyme.
Se você tem ou conhece alguém com um quadro parecido, converse com seu médico sobre a possibilidade de pensar na probabilidade da doença de Lyme explicar esses sintomas.
Tenho fibromialgia, mas acho que tenho doença de lyme. Mas osedicos não acreditam em mim. Não passam o exame.